Palankalama | Não se passa nada às segundas
“Não se passa nada às segundas”, é esse o nome da nova curadoria da Saliva Diva que acontece todos os meses, no primeiro dia da semana como o nome indica, precisamente com o intuito de combater a inércia de um dia frequentemente dominado pelo tédio ou o desânimo geral. O local escolhido foi a Socorro, a nova loja de discos/ vinis e livraria do Porto que recentemente abriu as portas da sua sala de concertos e que ofereceu a atmosfera ideal para este evento: íntima , tranquila e de genuíno convívio melómano. Tudo o que se pedia, portanto. Não há cá frescuras , só amor à arte e espírito underground numa verdadeira casa da música, aberta a tudo e todos.
E se esses momentos já eram mais do que suficientes para nos deixar de bom humor, revigorados e de cabeça limpa, tivemos depois a boa supresa dos Palankalama. Assim a descrevemos porque ainda nos lembramos de os ver algo “ verdinhos” no CCOP em novembro, a exibir um potencial palpável mas ainda não concretizado, como um vislumbre de uma futura consolidação identitária. Aqui o cenário foi outro, com uma banda claramente mais solta e coesa ,confiante na exibição da sua sonoridade que vagueia por atalhos tradicionais para chegar a caminhos contemporâneos, a proporcionar um concerto seguro e altamente satisfatório, como se agora já soubessem ser o que sempre pretenderam afirmar.
E o que são eles , afinal? São um coletivo de inspiração jazz em modo world music, cavaquinhos e violas braguesas a conviver com guitarras elétricas e contrabaixos, baixos elétricos e bateria. Olhamos para eles e quase que os imaginamos em cafés e lounges a espalhar melodias elegantemente soalheiras , ali entre o convite à dança e a apreciação sonora mais cuidada. Há resquícios de Dead Combo, sobretudo quando a guitarra elétrica nos encanta com um sopro quente e envolvente, suntuoso e evocativo ao ponto de nos deixar de alma lavada. No entanto, torna-se claro que os Palankalama não querem conscientemente evocar legados passados (ainda que inconscientemente o façam), e que qualquer semelhança que possa surgir é o resultado natural de influências gradualmente acumuladas. Há ali um feeling clássico - aliás , o tom da guitarra jazzística quase que nos atira, ocasionalmente , para memórias não vividas de Nova Orleães - e, no fundo, a ideia parece ser mesmo essa: viajar pelo tempo, sem fronteiras e em regime instrumental, fazendo do jazz “inclusivo” uma experiência lúdica e relaxada que põe qualquer um a dançar. Na verdade, olhávamos para o público- que até preencheu minimamente bem o espaço, o que foi ótimo- - e era isso que víamos: malta em movimento, não necessariamente em modo eufórico porque nem era bem isso que a música pedia , mas antes de forma descontraída e orgânica , como uma reação espontânea aos sons que pela sala iam ecoando. Jazz band que não é bem jazz band a colorir um final de tarde memorável…Com momentos assim, até o Garfield apreciaria uma segunda-feira.
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Organização:Saliva Diva
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domingo, 22 dezembro 2024